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Por Jerry Nguwa
No coração da floresta de Ngeleku, dentro da concessão de conservação REDD+ em Mai-Ndombe, na República Democrática do Congo, Mathieu Bolaa, líder de biodiversidade da Wildlife Works, está cercado por sua equipe de auxiliares de campo e membros da comunidade local. Estão terminando a montagem de suas barrracas após um dia intenso trabalhando num novo plano de amostragem de transectos. Ao olhar para o lado, Mathieu percebe que todos estão hipnotizados por um grupo de bonobos (Pan paniscus), que se aproxima cada vez mais, na tentativa de roubar parte da comida.
A cena faz Mathieu recordar como, no passado, era impossível prever se espécies de grande importância para a conservação, como bonobos e elefantes, um dia retornariam a essa região.
Quando Mathieu ingressou no projeto REDD+ de Mai-Ndombe, em 2011, sua missão parecia gigantesca: tornar o local seguro para a volta de espécies ameaçadas e documentar esse retorno. Tanto os elefantes quanto os bonobos, antes abundantes na região, tinham migrado para áreas mais conservadas devido ao desmatamento intensivo e à caça. Mathieu estava certo de que o sucesso da iniciativa passava pelo envolvimento e pela confiança das comunidades locais.
No começo, os moradores desconfiavam da equipe de biodiversidade, influenciados por informações equivocadas espalhadas por grupos que se opunham à concessão de conservação. Havia receio de que o projeto restringisse o uso da floresta, a caça e práticas culturais importantes. Com paciência, Mathieu e sua equipe explicaram como o modelo de conservação voltado para a comunidade poderia, na verdade, melhorar a vida dos moradores, gerando recursos para saúde, educação e infraestrutura básica.
Naquela época, os elefantes tinham sido vistos pela última vez no extremo sul da concessão, próximo à floresta Ngeleku. Eles haviam se refugiado na densa floresta de Ikuba — fora dos limites da área de conservação — habitada por outra comunidade, os Waria.
Mathieu e sua equipe acamparam em uma vila rural no sul e conversaram com o chefe tradicional, que, inicialmente, negou a presença de elefantes. Somente após conquistar a confiança dele foi que revelou a localização dos animais na floresta de Ikuba e até organizou uma expedição com caçadores locais. Depois de três dias de caminhada sob chuva constante, o grupo encontrou pegadas frescas de elefantes. No entanto, precisaram se retirar rapidamente por conta da resistência da comunidade Waria.
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Para ganhar a confiança da população, a Wildlife Works contratou moradores — inclusive ex-caçadores — como pesquisadores de biodiversidade. A experiência dessas pessoas na floresta foi fundamental para encontrar os animais e, ao mesmo tempo, reduzir a desconfiança em relação ao uso de novos equipamentos, como GPS e bússolas.
A participação ativa da comunidade ajudou a reduzir a pressão da caça. Em apenas um ano, foi possível registrar, em imagens, bonobos que antes se mantinham longe por medo.
Ao longo de cinco anos, a equipe trabalhou lado a lado com os moradores para pôr fim à caça de elefantes. Aos poucos, os animais voltaram a se sentir seguros na região, tanto que hoje podem ser vistos ao norte, na vila de Lubalu. Agora, é comum as câmeras de monitoramento (as conhecidas “câmeras-trap”) registrarem famílias de elefantes se alimentando tranquilamente — sinal claro da confiança que readquiriram em seu habitat.
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Com o crescimento dessa população, o projeto REDD+ de Mai-Ndombe enfrenta hoje um “problema feliz”: os elefantes estão tão numerosos que, às vezes, invadem plantações das comunidades. Para lidar com essas ocorrências de forma segura e pacífica, a Wildlife Works e os moradores desenvolveram soluções específicas, e há um sentimento positivo em ver uma espécie antes ameaçada prosperando.
A cooperação bem-sucedida reforçou a imagem positiva do trabalho de conservação. A mensagem central da equipe é de que proteger espécies importantes como elefantes e bonobos também traz benefícios financeiros para a comunidade, por meio da venda de créditos de carbono. Nesse sentido, foi fundamental envolver as mulheres desde o início, pois elas atuam como o elo principal na transmissão de informações sobre as vantagens do projeto para toda a comunidade.